Escrito por Marcelo Hentz Ramos – PhD – Diretor 3rlab (Rehagro).
Pesquisadores têm estudado fatores físicos, digestivos e
metabólicos que contribuem para a regulação voluntária do consumo de alimentos
em vacas leiteiras. A identificação destes fatores é necessária para formulação
de dietas que possam ajudar a aperfeiçoar o consumo de alimentos. Isto é
importante para aumentar a produção de leite e também para ajudar vacas no
início da lactação, que geralmente estão em balanço energético negativo.
Mudanças no consumo de alimentos podem ser mediadas por mudanças
no comportamento da alimentação. Por exemplo, para uma vaca comer mais, é
necessário modificar o tamanho ou a frequência das refeições, ou uma combinação
das duas. Como consequência essa precisará aumentar o tempo e ou a taxa de
consumo.
O comportamento alimentar não é importante apenas para o consumo
total de matéria seca, mas também para manter o rúmen saudável e funcionando
eficientemente. Refeições longas e de grande quantidade em uma velocidade
rápida têm sido associado com uma incidência elevada de acidose subclínica em
vacas leiteiras. A razão para este risco é que o pH do rúmen cai após a
refeição devido a produção de ácidos graxos. A taxa de queda do pH aumenta com
o tamanho da refeição. E com o animal gastando menos tempo para comer, há um
aumento na taxa de consumo de alimento, com consequente redução da produção
diária de saliva, diminuindo a capacidade tamponante do rúmen e reduzindo ainda
mais o pH.
Refeições pequenas e com maior frequência
Uma alternativa para diminuir o risco de acidose subclínica é
diminuir a taxa de consumo de matéria seca, aumentando a frequência de consumo
de alimento. Com refeições menores durante o dia, o tamponamento do rúmen é
maximizado e a variação de pH durante o dia diminui. Portanto, para maximizar a
saúde e eficiência em produtividade é importante utilizar estratégias que
promovam a consumo frequente de alimento em refeições pequenas durante o dia.
Em condições naturais de pastejo, vacas consomem alimentos até 9
horas por dia. O momento da alimentação é dividido em várias refeições durante
o dia, com grande parte do alimento sendo consumido no início da manhã e final
da tarde. Em situações onde as vacas recebem dieta completa no cocho, os
animais tipicamente consomem o alimento em três a cinco horas por dia,
divididos entre 10 ou mais refeições por dia. Esse comportamento de alimentação
com dieta completa é influenciado pelos tipos de alimentos fornecidos, pelo
manejo e ambiente.
Aditivos podem modificar consumo
O uso de dieta completa, com alta concentração de forragem
promoverá um consumo de alimentos mais lento com mais refeições por dia.
Infelizmente, isso não é comum, pois a tendência é fornecer dietas com baixa
concentração de forragem e muitas vezes com esta sendo picada fina, com o
objetivo de maximizar consumo e digestibilidade para atingir os requerimentos
do animal. Portanto, levando em consideração que precisamos explorar
oportunidades de modificar o comportamento alimentar das vacas com as dietas
que fornecemos, existem inúmeras evidências que a utilização de aditivos pode
impactar o comportamento alimentar.
Em trabalhos recentes na Universidade de Guelph, pesquisadores
demonstraram que a suplementação de vacas leiteiras com cepas vivas de Saccharomyces
cerevisiae causou um impacto positivo no comportamento alimentar. A
suplementação com esta levedura levou animais a consumirem a dieta com mais
frequência. Pesquisadores espanhóis obtiveram a mesma resposta com a suplementação
desta levedura, e o aditivo ainda aumentou o pH do rúmen. O benefício de
aumento de frequência de alimentação não é único desta levedura. A adição de
monensina também aumentou a frequência de consumo e a quantidade da dieta
consumida, de acordo com trabalhos da Universidade de Kansas.
Estabilização do pH é chave
O ponto comum entre este estudos é a associação entre um melhor
comportamento alimentar e a redução da variação no pH. Se o comportamento
alimentar afeta o pH, é muito provável que levedura viva e monensina possuem o
potencial de estabilizar o pH na fermentação e afetar o comportamento alimentar
secundariamente. A fermentação mais consistente deve resultar em menor variação
na produção de ácidos graxos voláteis, melhorar a digestão de fibras e levar a
um retorno mais rápido ao consumo. Neste ponto, não se pode concluir o que é
causa e consequência, se a melhora no ambiente ruminal é devido ao
comportamento alimentar ou vice-versa. Do ponto de vista da vaca não importa!
Aditivos alimentares que promovam comportamento alimentar mais
saudável e possuem um impacto positivo no ambiente ruminal podem ser útil
particularmente em situações onde existe chance de depressão de gordura do
leite, como em dietas com alta inclusão de amido, pós-parto e vacas com maior
chance de desenvolver acidose subclínica. Nestas situações, a utilização de
aditivos, em adição às questões de manejo de cocho, pode permitir que as vacas
utilizem os alimentos no seu máximo potencial e continuem saudáveis e
produtivas.
Adaptado de: Feed additives can change the
way cows eat. Hoards Dairyman, Outubro 2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário